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quarta-feira, abril 12, 2006

Mono "You are there" (Temporary Residence, 2006)
Sickoakes "Seawards" (Type, 2006)

Não raras vezes há heranças musicais particularmente pesadas. Acontece principalmente quando alguém consegue criar algo novo, mas que tecnicamente não era dificil de realizar e que facilmente pode ser enquadrado numa formula. É isso que acontece com a música dos godspeed you black emperor! e dos Mogwai: apesar de toda a sua intensidade, é "replicável" com alguma facilidade. Vai daí aparecerem dezenas de bandas clones da original é apenas um passo.
Os japoneses Mono (não confundir com os ingleses Mono, que na década de 90 nos ofereceram um álbum magnífico chamado "Formica Blues") são um exemplo desses clones. No concerto em Lisboa há uns tempos atrás apresentaram um som que ora lembrava gybe!, ora lembrava Mogwai, de uma forma alternada. Por isso as espectativas não eram as melhores para este novo álbum deles. E ouve-se "You are there" e reconhecem-se todas essas formulas no disco. E então acontece algo de particularmente interessante: "You are there" é um disco muito bom, apesar de "formulaico". Principalmente quando a banda decide não ir aos inevitáveis "altos" (que às vezes soam desnecessarios) como acontece na faixa "Are you there".
Já os Sickoakes partem da mesma formula mas tentam ir além dela e criar algo novo. São formalmente bem mais arrojados que os Mono. E realmente a primeira faixa "Driftwood" mostra que eles serão capazes de boas coisas. O problema é que depois lhes falta a inspiração para fazer melodias que existe no novo álbum dos Mono. E então progressivamente "Seawards" torna-se chato. Os Sickoakes arriscaram, mas terminaram nos lugares comuns do post-rock dos anos 90, sem melodias inspiradas que os salvassem. Talvez num próximo disco a coisa fique melhor e talvez ao vivo os Sickoakes se mostrem um pouco mais soltos. Para já "Seawards" é apenas uma promessa a roçar a mediania.

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quinta-feira, abril 06, 2006

O fim do Blitz

Está agendada para este mês a última edição deste jornal de música. Sobre este acontecimento apetece-me dizer algumas coisas.

1 - A importância do Blitz - O Blitz percorreu quase toda a década de 80 e toda a década de 90. E, numa altura em que a informação musical em Portugal era escassa, o Blitz assumia-se como um autêntico farol que nos guiava e nos dava a conhecer o que de melhor se fazia lá fora no campo da música. Todas as semanas havia uma excitação por comprar o Blitz... de que banda nova irão eles falar? Irá aparecer um álbum novo da banda X? Como foram os concertos ali e acolá? Há alguma banda portuguesa a despontar? Foram anos e anos a fio a ter este tipo de sentimentos, de expectativas e de formação (ou crescimento) musical.

2 - A decadência do Blitz - Infelizmente este não foi um idilio eterno. A dada altura as coisas começaram a encalhar. Basicamente o Blitz sofreu vários "choques" nos últimos anos: a TV por cabo (e a MTV e semelhantes) passou a mostrar imagens em primeira mão dos artistas de que o Blitz falava, deixou de haver o tal mistério; as revistas musicais estrangeiras começaram a ser de fácil acesso para todos (pelo menos para quem mora em Lisboa); a internet começou a ser a fonte primordial de informação musical (seja através de sites estrangeiros como a Pitchfork, seja através de sites nacionais cujos pioneiros terão sido a Musicnet e a Radio Pirata); finalmente os programas de partilha de música quase que se massificaram. Foram circunstâncias muito adversas. A resposta do Blitz a estas movimentações e mudanças foi sempre tardia, pouco flexivel e às vezes com alguns erros clamorosos. Quando se chamava a atenção de que o Blitz não falava em muitas bandas, a resposta era que eram "desconhecidas", que o mercado não estava "receptivo" (como se os leitores do Blitz preferissem uma playlist à descoberta...) ou então que os discos não estavam editados em Portugal (como se não existisse importação ou programas de partilha de ficheiros na internet). A tudo isto o Blitz reagiu com derivas Nu-Metal já fora do prazo de validade nos tempos da Sónia Pereira ou com tentativas de aproximar o Blitz do mainstream nas últimas 2 direcções. Quanto a reacções ao mundo real, o Blitz agia ou com atraso, ou com uma distância quase snob. Achava sempre divertido ler alguns textos sobre concertos na Galeria Zé dos Bois, onde basicamente os jornalistas do Blitz raramente conseguiam perder a mania de avaliar de uma forma "olha os vanguardistas amadores com projectos musicais que não interessam a ninguém". É claro que existiam excapções, é claram que existiam muitos bons textos no Blitz, mas nada disso impedia que se sentisse que as noticias e crónicas no Blitz eram ou requentadas ou dirigidas apenas uma faixa de público que se revisse nas "private jokes" e manias de quem escrevia. Lembro-me de existirem concertos no Coliseu no domingo à noite, e a crónica desse concerto não aparecia na 3ª feira seguinte porque a redacção fechava na 6ª feira (!). Todos estes acontecimentos acumulados com o facto da situação ser mesmo adversa conduziram à decadência do Blitz.

3 - O Blitz termina - E eis que o Blitz termina no dia 24 de Abril de 2006. Que raio de data foram escolher...

4 - O Blitz ressuscita (?) - E eis que o Blitz ressuscita como revista mensal. Que pensarão os jornalistas e donos do Blitz? Que o Blitz deixará de ser o NME português para ser a Uncut portuguesa? (sim, porque The Wire portuguesa dúvido muito). Eu digo o que vai ser. O igualmente saudoso Se7e também ressuscitou depois de morrer sob a forma de uma revista, com bom papel e tal, há uns 12 anos atrás. Teve uma vida tão curta... porque simplesmente não havia mercado. O nome do Blitz pouco irá valer depois desta transformação, na prática é adiar o inevitável: o fim do único jornal sobre música em Portugal. 20 anos depois o Blitz cumpriu a sua função: formou imensa gente, gente que escreve blogs, promove concertos, formaram até bandas. Esse tempo acabou. É pena, mas o Blitz não soube adaptar-se e agora receio que seja tarde demais. Durante 20 anos houve um nicho de mercado que tornava rentável a existência de um jornal sobre música em Portugal, esse tempo terminou porque as pessoas mudaram e o Blitz deixou de ser assim tão essencial. Mete pena nunca mais ver este jornal na banca todas as 3ª feiras, era algo familiar, mas teve que ser assim. Desejo a melhor das sortes à nova encarnação do jornal (acho que vão precisar...) e oxalá que consigam vingar e eu esteja errado. Uma coisa é certa: não é por passarem a ser uma revista mensal que passam a ter mercado. Os conteúdos serão sempre a chave da sobrevivência do jornal. Para o Blitz sobreviver terão que voltar a ser tão essenciais quanto eram há 10 anos atrás. Serão capazes de estar à altura deste desafio, depois de tantos erros cometidos?

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quarta-feira, abril 05, 2006

Kieran Hebden + Steve Reid "Exchange Session Vol. 1" (Domino, 2006)

Kieran Hebden é o músico do projecto Four Tet, tendo participado no projecto de post-rock Fridge nos anos 90. Steve Reid é um baterista e uma "vaca sagrada" do jazz, que tocou com Miles Davis, Fela Kuti e Sun Ra, para além muitas outras colaborações. Estamos pois a falar de homens de gerações diferentes, estilos diferentes (embora Kieran Hebden sempre tenha incorporado elementos do Free Jazz na sua música e Steve Reid tenha participado em inúmeras experiências de fusão do jazz com outros estilos) e até raças e nacionalidades diferentes. É pois no mínimo surpreendente como este primeiro álbum da dupla surja tão entrosado. Hebden toma conta da electrónica e da produção, Reid das percussões, e o resultado é completamente electrizante. "Exchange Session Vol. 1" é primo dos últimos álbuns dos Spring Heel Jack, mas aqui existe um cheiro coltraniano (por exemplo, há ecos de Alice Coltrane e Pharoah Sanders, enquanto a sombra tutelar do Coltrane paira por aqui) que não existe nos Spring Heel Jack (mais ligados à Avant-Gard, por assim dizer). Por exemplo, "Morning Prayer" tem um titulo apropriado devido à espiritualidade sugerida aliada a uma conjução de sons luminosa, como que a despertar de um sonha. As duas faixas mais longas, "Soul Oscillations" e "Electricity and Drum will change your Mind", são pelo contrário plenas de vigor. Steve Reid incute um groove irresistivel enquanto Kieran Hebden solta sons metálicos que nos jogam directos no meio de uma semi-urbanidade. Este disco é daqueles raros casos em que apetece saltar quando se ouve. Ou então experimentem ouvir no carro a 150 km/h... pensando melhor, é melhor não. :-)

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