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sexta-feira, maio 07, 2004

Múm em Lisboa (Aula Magna, 6 de Maio de 2004)

Há momentos assim. Em que a magia aparece misteriosamente, das brumas. O concerto dos Múm ontem na Aula Magna foi emocionante, por muitas e variadas razões. É a 3ª vez que vejos os Múm ao vivo (a primeira vez em Lisboa), e o facto de acompanhar os Múm desde fases tão diferentes da sua carreira faz sempre sentir algo especial por esta banda. São as memórias de um primeiro concerto num bar de Candem Town em Londres, ainda com a Gyða Anna Valtýsdóttir... e a memória de pouco tempo depois (cerca de 1 mês) a Gyða abandonar o grupo, originando um concerto triste (mas vibrante) na ICA de Londres, constituido inteiramente por temas inéditos. Concertos marcados por uma electronica semi-artesanal, misturada com alguns sons acústicos como o acordeon, e uma vontade de ir além e procurar o que não é óbvio, mesmo que para isso seja necessario desistir da pop, mesmo que para isso seja necessario não estar na moda.

Este concerto foi muito diferente dos outros que assisti. Agora há muito mais músicos e instrumentos em palco, como guitarras electricas e trompetes. Embora o cerne do grupo seja agora um trio, visto que a partida da Gyða foi definitiva. Em compensação temos músicos como Samuli Kosminen, percussionista finlandês que impressionou há cerca de 6 meses atrás quando veio a Portugal no projecto Kluster do Kimmo Pohjonen. Este é um aspecto fundamental. A sua presença faz com que muitos dos sons que eram gerados electronicamente sejam agora tocados ao vivo por um baterista. A sua influência no novo som dos Múm é realmente muito forte. O concerto começou com temas do novo álbum, o excelente "Summer make good", numa toada intimista e espectral, repleta de sons maritimos, aves, espiritos e batidas pulsantes como o bater do coração. Canções como "the ghosts you draw on my back" causam alguns arrepios e começam a deixar na mente a impressão que este novo álbum dos Múm é qualquer coisa de especial. A voz da Kristín é estranha, lembra uma Stina Nordenstam em queda, e ao contrario do que muita gente diz, não é uma voz angelical. É fantasmagórica. Sussurrante. Que não se percebe, mas que está à volta. Isso nota-se quando chega a primeira canção da noite que não é do novo álbum, a arrepiante "now there's that fear again", talvez a melhor canção deles, em que a simbiose de tudo isto parece perfeita. A roupagem desta canção é muito nova, graças à expansão instrumental do grupo. O concerto terminou de forma apoteotica com dois encores, depois de uma segunda metade centrada nos álbuns mais antigos.

Os Múm há muito que prometiam para mim um concerto assim. Foi ontem. Depois de anos a procurar um pouco a sua identidade, depois de álbuns a evoluir de colagens aos seus idolos Stereolab, Boards of Canada e Mouse on Mars, para uma personalidade forte e vincada. Os Múm são hoje os Múm, desde as compilações da Kitchen Mottors e do “Yesterday was dramatic – Today is ok” muita coisa mudou e ainda bem. Mesmo que para isso muitos fans torçam o nariz. Mesmo que críticos com graves problemas psicologicos sintam a perversão da qual têm medo.

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