sexta-feira, outubro 22, 2004
TEXTO PUBLICADO NA MONDO BIZARRE #19
Como já foi anunciado, os Pan Sonic vão actuar no próximo dia 5 de Novembro no Festival Número. É pois tempo de recordar o texto publicado na Mondo Bizarre de Junho, 2004.
Pan Sonic
Explosão e Arrefecimento
Depois do album “Aaltopiiri” e de uma volta ao mundo, os finlandeses Pan Sonic finalmente voltam a injectar força e capacidade de choque à música electrónica no novo álbum “Kesto (234:48:4)”, uma aventura épica através da electrónica, da música industrial e dos sons ambientais.
Quando em 1993 os finlandeses Mika Vainio e o Ilpo Väisänen criaram o duo Panasonic, inspirados em bandas como os Throbbing Gristle, Einstürzende Neubauten e os Suicide, a electrónica voltou a mostrar a sua face mais negra e dura. A personalidade dos Panasonic foi moldada ao longo de 3 álbuns (“Vakio”, “Kulma” e “A”) que fascinavam pela sua dureza e visceralidade. Os seus concertos, por outro lado, começaram a tornar-se célebres por atingirem o limite da audibilidade, com frequências de sons que levavam mesmo os adeptos mais entusiasticos da electrónica a abandonarem os espectaculos antes de acabarem. Forçados a mudarem entretanto o nome para Pan Sonic (parece que alguns advogados de uma multinacional com o mesmo nome ficaram zangados com o duo finlandês), em 2001 surge “Aaltopiiri”, um disco verdadeiramente imparável, algures entre o som ambiental de chapas metálicas a gemer e o som das máquinas do futuro a atravessar autoestradas atoladas de carros ferrugentos. Assustador, claro, mas igualmente irresistível: é que uma vez suplantado o temor, “Aaltopiiri” oferecia-nos um groove inesperado a lembrar vagamente a motorika dos Neu!. Só que em vez de pintada com tinta branca, aqui a motorika era pintada pelas cores escuras dos Throbbing Gristle ou dos Suicide.“Aaltopiiri” marcou fortemente os Pan Sonic. O seu sucesso levou-os a uma digressão mundial, desde a Singapura às Ilhas da Pascoa. Inúmeras colaborações surgiram entretanto com as Chicks on Speed e a Peaches, por exemplo. Tamanha actividade paralela justifica, portanto, o atraso de 3 anos para a edição de um novo álbum, mas em Abril deste ano surgiu a newsletter da editora Blast First: um novo álbum de Pan Sonic iria sair brevemente. Logo depois, o espanto: tratava-se de um álbum com 4 CDs e chamava-se “Kesto” (que traduzido para português significa “força” ou “duração”). E aí está provavelmente um dos discos mais épicos alguma vez produzidos. “Kesto” são 234 horas de música electrónica que começam com um estouro semelhante ao Big Bang. O primeiro CD é uma das obras mais violentas e abrasivas que ouvi nos últimos anos. Uma autêntica força destruidora, que tudo arrasa, ou então que tudo cria. Tamanha energia começa a expandir-se e a arrefecer, e quando chegamos ao 2º CD já estamos novamente em territórios mais próximos do “Aaltopiiri”. Progressivamente mais ambiental, “Kesto” no 3º CD começa a pronunciar que um frio gélido se aproxima, e no 4º CD os Pan Sonic oferecem-nos um tema de 61 minutos e 16 segundos com o nome “Radiation”, o tema ambiental gelado que finaliza “Kesto” na paz da penumbra do espaço profundo. “Radiation” é também dedicado a artistas como os Suicide, Throbbing Gristle e Charlemagne Palestine, o que mais uma testumunha a filiação de umas das bandas mais influentes da electrónica actual, ao nível de uns Autechre. “Kesto” é um álbum fundamental que se espera não ser definitivo. É que depois de uma aventura destas é legitimo perguntar o que raio vão eles fazer depois…
Como já foi anunciado, os Pan Sonic vão actuar no próximo dia 5 de Novembro no Festival Número. É pois tempo de recordar o texto publicado na Mondo Bizarre de Junho, 2004.
Pan Sonic
Explosão e Arrefecimento
Depois do album “Aaltopiiri” e de uma volta ao mundo, os finlandeses Pan Sonic finalmente voltam a injectar força e capacidade de choque à música electrónica no novo álbum “Kesto (234:48:4)”, uma aventura épica através da electrónica, da música industrial e dos sons ambientais.
Quando em 1993 os finlandeses Mika Vainio e o Ilpo Väisänen criaram o duo Panasonic, inspirados em bandas como os Throbbing Gristle, Einstürzende Neubauten e os Suicide, a electrónica voltou a mostrar a sua face mais negra e dura. A personalidade dos Panasonic foi moldada ao longo de 3 álbuns (“Vakio”, “Kulma” e “A”) que fascinavam pela sua dureza e visceralidade. Os seus concertos, por outro lado, começaram a tornar-se célebres por atingirem o limite da audibilidade, com frequências de sons que levavam mesmo os adeptos mais entusiasticos da electrónica a abandonarem os espectaculos antes de acabarem. Forçados a mudarem entretanto o nome para Pan Sonic (parece que alguns advogados de uma multinacional com o mesmo nome ficaram zangados com o duo finlandês), em 2001 surge “Aaltopiiri”, um disco verdadeiramente imparável, algures entre o som ambiental de chapas metálicas a gemer e o som das máquinas do futuro a atravessar autoestradas atoladas de carros ferrugentos. Assustador, claro, mas igualmente irresistível: é que uma vez suplantado o temor, “Aaltopiiri” oferecia-nos um groove inesperado a lembrar vagamente a motorika dos Neu!. Só que em vez de pintada com tinta branca, aqui a motorika era pintada pelas cores escuras dos Throbbing Gristle ou dos Suicide.“Aaltopiiri” marcou fortemente os Pan Sonic. O seu sucesso levou-os a uma digressão mundial, desde a Singapura às Ilhas da Pascoa. Inúmeras colaborações surgiram entretanto com as Chicks on Speed e a Peaches, por exemplo. Tamanha actividade paralela justifica, portanto, o atraso de 3 anos para a edição de um novo álbum, mas em Abril deste ano surgiu a newsletter da editora Blast First: um novo álbum de Pan Sonic iria sair brevemente. Logo depois, o espanto: tratava-se de um álbum com 4 CDs e chamava-se “Kesto” (que traduzido para português significa “força” ou “duração”). E aí está provavelmente um dos discos mais épicos alguma vez produzidos. “Kesto” são 234 horas de música electrónica que começam com um estouro semelhante ao Big Bang. O primeiro CD é uma das obras mais violentas e abrasivas que ouvi nos últimos anos. Uma autêntica força destruidora, que tudo arrasa, ou então que tudo cria. Tamanha energia começa a expandir-se e a arrefecer, e quando chegamos ao 2º CD já estamos novamente em territórios mais próximos do “Aaltopiiri”. Progressivamente mais ambiental, “Kesto” no 3º CD começa a pronunciar que um frio gélido se aproxima, e no 4º CD os Pan Sonic oferecem-nos um tema de 61 minutos e 16 segundos com o nome “Radiation”, o tema ambiental gelado que finaliza “Kesto” na paz da penumbra do espaço profundo. “Radiation” é também dedicado a artistas como os Suicide, Throbbing Gristle e Charlemagne Palestine, o que mais uma testumunha a filiação de umas das bandas mais influentes da electrónica actual, ao nível de uns Autechre. “Kesto” é um álbum fundamental que se espera não ser definitivo. É que depois de uma aventura destas é legitimo perguntar o que raio vão eles fazer depois…
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