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quinta-feira, dezembro 16, 2004

TEXTO PUBLICADO NA MONDO BIZARRE #20

Radian
Contrastes Electrónicos




Os Radian são um trio austríaco constituído por Martin Brandlmayr (que também faz parte do trio Trapist cujo álbum “Ballroom” foi editado recentemente na Thrill Jockey) na bateria, Stefan Nemeth (dono da editora Mosz, onde se podem encontrar gravações de projectos paralelos dos Radian e Trapist) no sintetizador e guitarra e John Norman no baixo. Ao contrário dos Trapist, os Radian são francamente mais electrónicos, onde os temas são normalmente compostos a partir de sons gravados de instrumentos “convencionais”., apesar de poderem ser posteriormente tocados ao vivo usando bateria, baixo e sintetizador. É um verdadeiro trabalho “laboratorial”, onde músicos de bata branca trabalham a matéria-prima de forma a obter o resultado desejado. O lado quente da espontaneidade da improvisação desaparece, mas ganha-se a frieza do laboratório, como se os Radian fossem uma espécie de contraponto dos Trapist.
Esta forma de tocar levou a que o álbum “Rec. Extern” encontrasse um sucesso talvez inesperado, levando os Radian a várias partes do mundo, inclusive Portugal, onde deram um memorável concerto integrado num festival itinerante da Thrill Jockey, que há dois anos passou por Lisboa. As comparações com os This Heat são imediatas, em grande parte devido ao pulsar constante dos ruídos electrónicos que se entranham em linhas melódicas quase minimais. A importância do beat, contudo, mostra também uma forte influência do krautrock da vizinha Alemanha, particularmente da componente rítmica de bandas como os Can. É destas influências em rota de colisão com a electrónica digital mais contemporânea que brotam as músicas que ouvimos nos trabalhos dos Radian.
“Juxtaposition” o novo álbum dos Radian, volta a contar com a colaboração de John McEntire (líder dos Tortoise). Conceptualmente estamos na presença de um álbum muito parecido com o “Rec. Extern”, como se houvesse uma revisitação do álbum anterior. A diferença surge numa maior depuração dos sons, intensificando o contraste entre diferentes ruídos/melodias, puxando o ouvinte para uma experiência intimista provocada pelo diálogo entre os contrastes gerados. O resultado é um álbum ainda mais cerebral, mas que aponta pistas diferentes das usuais na área da electrónica e do rock mais experimental. A sensação de se ouvir algo verdadeiramente novo acaba por ser muito gratificante, mesmo que isso traga consigo uma certa estranheza inerente a tudo o que é desconhecido. Fica-se no entanto à espera do dia em que as emoções comecem a entranhar-se nestes edifícios sonoros, e então teremos chegado ao climax destas explorações musicais vindas da Áustria, que cada vez mais se assume como um dos epicentros essenciais das colisões entre a electrónica, o rock e a música improvisada.

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