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terça-feira, novembro 15, 2005

Meira Asher e Sussan Deyhim na Guarda

O passado fim de semana foi marcado por uma ida à Guarda para assistir aos concertos de Meira Asher & Guy Harris no dia 11 de Novembro e Sussan Deyhim & Richard Horowitz no dia 12 de Novembro. Por entre morcelas tostadas, flocos de neve e uma visita guiada pelo músico Victor Afonso à excelente Mediateca da Guarda, assistiu-se a dois dos melhores exemplos da ligação entre a tradição da música vocal e a electrónica.

A Meira Asher é uma cantora israelita com uma vasta experiência nas artes performativas, que se tem notabilizado pela forma particularmente dura com que aborda alguns dos problemas sociais e politicos da actualidade (por exemplo, a SIDA, o conflito israelopalestianiano e o uso de crianças nas guerras). Voga entre o canto tradicional, o industrial e o noise, e há quem a tenha comparado à Diamanda Galás e a chame de cantora maldita. Neste concerto na Guarda apresentou-se, contudo, de uma forma bem mais pacificada (apesar de não prescindir dos ecos do passado mais chocante). Sem imagens projectadas, com um volume de som relativamente baixo (um dos problemas do concerto) e com pouca vontade de chocar o público, Meira Asher começou com uma canção do "Spears into Hooks" chamada "È un Uomo" (cantada em italiano ou latim?), que no contexto do álbum era uma comparação entre o sofrimento dos palestinianos com o dos judeus no holocausto e ainda o de Jesus Cristo na cruz. Nesta nova versão ao vivo, contudo, a canção perdeu um pouco essa simbologia. Mais à frente (e com um concerto fortemente baseado em canções inéditas) houve momentos muito fortes, com uma máquina de escrever e ainda com microfones de contacto e pequenas erupções de noise. A inspiração da parte instrumental (controlada por Guy Harries) parecia advir dos Pan Sonic e cultivadores do género noise como Merzbow, Kid 606 (do álbum "PS I love you") e de Scott Gibbons (também conhecido por Lilith). Faltou ao concerto um pouco mais de violência para ser mais eficaz.

A Sussan Deyhim e Richard Horowitz são francamente diferentes na abordagem à canção, muito mais tradicionais, apelando a uma onda mais contemplativa e interior da música persa. Baseada em poemas sufis, Sussan Deyhim é dona de uma voz fantástica, e não teve problemas nenhuns em usa-la. Richard Horowitz é particularmente sensível na forma como acompanha o canto de Sussan Deyhim, usando flautas e percussões discretas, que aquecem as canções. Nalguns momentos em que Deyhim assumiu de forma clara a sua faceta de experimentadora nas vocalizações, contudo, o concerto foi verdadeiramente exaltante, o que levou a pouco e pouco que o público fosse conquistado. Terminou com uma ovação de pé, e com canções em inglês que me fizeram lembrar vagamente a Diamanda Galás (justamente), o que me leva a supor que o novo álbum da iraniana seja a não perder de forma alguma.

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