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quarta-feira, outubro 27, 2004

John Peel e a música electrónica inglesa

John Peel ficará para sempre ligado ao pop/rock independente made in Reino Unido, desde os The Fall aos Jesus and Mary Chain, dos Smiths aos Mogwai. Menos conhecida, mas igualmente importante, foi a sua divulgação de música electrónica ou menos ligada ao pop/rock. Desde os Scorn até aos Fun-Da-Mental, dos Future Sound of London até aos Meat Beat Manifesto, muitos foram os projectos divulgados nos programas de rádio do John Peel. A sua influência fez-se sentir especialmente na editora Warp, que ao longo da sua existência editou vários EPs com sessões para rádio dos Autechre (duas sessões), Black Dog, Plaid, Boards of Canada e Mira Calix. A primeira sessão dos Autechre, Boards of Canada e Black Dog foram, de resto, compiladas numa edição japonesa que se consegue comprar através do site da Warp:



Nesta edição apercebemo-nos do alcance que a palavra eclectismo realmente tem. É muitas vezes usada para se mostrar que se gosta de muitos estilos musicais, mas poucos o são verdadeiramente. John Peel era. Daí o seu desaparecimento ser uma enorme perda. É que amantes de música há muitos. Mas amantes de música com uma mente tão aberta quanto a do John Peel e com capacidade para trabalhar há poucos, muito poucos.

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terça-feira, outubro 26, 2004

John Peel morreu!

Um dos maiores divulgadores de música no mundo morreu hoje de ataque cardiaco. Para a história ficam as lendárias sessões de rádio com quase todos os artistas mais relevantes do pop-rock e da electrónica inglesa. Uma enorme perda.




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sexta-feira, outubro 22, 2004

TEXTO PUBLICADO NA MONDO BIZARRE #19

Como já foi anunciado, os Pan Sonic vão actuar no próximo dia 5 de Novembro no Festival Número. É pois tempo de recordar o texto publicado na Mondo Bizarre de Junho, 2004.

Pan Sonic
Explosão e Arrefecimento



Depois do album “Aaltopiiri” e de uma volta ao mundo, os finlandeses Pan Sonic finalmente voltam a injectar força e capacidade de choque à música electrónica no novo álbum “Kesto (234:48:4)”, uma aventura épica através da electrónica, da música industrial e dos sons ambientais.

Quando em 1993 os finlandeses Mika Vainio e o Ilpo Väisänen criaram o duo Panasonic, inspirados em bandas como os Throbbing Gristle, Einstürzende Neubauten e os Suicide, a electrónica voltou a mostrar a sua face mais negra e dura. A personalidade dos Panasonic foi moldada ao longo de 3 álbuns (“Vakio”, “Kulma” e “A”) que fascinavam pela sua dureza e visceralidade. Os seus concertos, por outro lado, começaram a tornar-se célebres por atingirem o limite da audibilidade, com frequências de sons que levavam mesmo os adeptos mais entusiasticos da electrónica a abandonarem os espectaculos antes de acabarem. Forçados a mudarem entretanto o nome para Pan Sonic (parece que alguns advogados de uma multinacional com o mesmo nome ficaram zangados com o duo finlandês), em 2001 surge “Aaltopiiri”, um disco verdadeiramente imparável, algures entre o som ambiental de chapas metálicas a gemer e o som das máquinas do futuro a atravessar autoestradas atoladas de carros ferrugentos. Assustador, claro, mas igualmente irresistível: é que uma vez suplantado o temor, “Aaltopiiri” oferecia-nos um groove inesperado a lembrar vagamente a motorika dos Neu!. Só que em vez de pintada com tinta branca, aqui a motorika era pintada pelas cores escuras dos Throbbing Gristle ou dos Suicide.“Aaltopiiri” marcou fortemente os Pan Sonic. O seu sucesso levou-os a uma digressão mundial, desde a Singapura às Ilhas da Pascoa. Inúmeras colaborações surgiram entretanto com as Chicks on Speed e a Peaches, por exemplo. Tamanha actividade paralela justifica, portanto, o atraso de 3 anos para a edição de um novo álbum, mas em Abril deste ano surgiu a newsletter da editora Blast First: um novo álbum de Pan Sonic iria sair brevemente. Logo depois, o espanto: tratava-se de um álbum com 4 CDs e chamava-se “Kesto” (que traduzido para português significa “força” ou “duração”). E aí está provavelmente um dos discos mais épicos alguma vez produzidos. “Kesto” são 234 horas de música electrónica que começam com um estouro semelhante ao Big Bang. O primeiro CD é uma das obras mais violentas e abrasivas que ouvi nos últimos anos. Uma autêntica força destruidora, que tudo arrasa, ou então que tudo cria. Tamanha energia começa a expandir-se e a arrefecer, e quando chegamos ao 2º CD já estamos novamente em territórios mais próximos do “Aaltopiiri”. Progressivamente mais ambiental, “Kesto” no 3º CD começa a pronunciar que um frio gélido se aproxima, e no 4º CD os Pan Sonic oferecem-nos um tema de 61 minutos e 16 segundos com o nome “Radiation”, o tema ambiental gelado que finaliza “Kesto” na paz da penumbra do espaço profundo. “Radiation” é também dedicado a artistas como os Suicide, Throbbing Gristle e Charlemagne Palestine, o que mais uma testumunha a filiação de umas das bandas mais influentes da electrónica actual, ao nível de uns Autechre. “Kesto” é um álbum fundamental que se espera não ser definitivo. É que depois de uma aventura destas é legitimo perguntar o que raio vão eles fazer depois…

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quinta-feira, outubro 21, 2004

Mondo Bizarre #20 (Setembro de 2004)



Finalmente saiu a edição de Setembro da Mondo Bizarre. Neste número poderão ser lidos artigos sobre:

Mark Lanegan - The Faint - The Dillinger Escape Plan - Boss Martians - Sufjan Stevens - The Hunches The (International) Noise Conspiracy - Shannon Wright - Chicago Soul - The Futureheads/Ikara Colt Outono 2004 - Migala - Neurosis - Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre - The Clash - American Music Club - Holly Golightly - Thalia Zedek - Head Automatica - Radian - TV On The Radio - Wolf Eyes - The Insomniacs - Tuxedomoon - Guided By Voices

Como sempre, podem encontrar a Mondo Bizarre nos lugares habituais. :)

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sexta-feira, outubro 15, 2004

Festival Número 2005

O Festival Número está quase a chegar (é nos dias 5 e 6 de Novembro e vai realizar-se numa tenda no CCB) e começam a chegar informações acerca do seu line-up. O blog do Vítor Junqueira juramentosembandeira.blogspot.com revela vários dos nomes que irão estar presentes. O meu destaque vai, claro, para as presenças de Pan Sonic e da Mira Calix. Também tenho alguma curiosidade para ver a Ann Shenton (ex Add (N) to X), Dani Siciliano e a Juana Molina ao vivo. O mais curioso, contudo, é o feito deste festival este ano. Num estilo musical altamente masculino como é a electrónica, a Número consegue a proeza de ter várias mulheres no seu line-up. Terá sido mera coincidência? Enquanto a resposta não chega, convém estar atento porque é provavel que ainda possam acontecer mudanças na programação deste festival.




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Música sob escuta

Isto de ouvir música, muita música, tem que se lhe diga... Fica pouco espaço para reflexão, para de facto sentir a música que ouvimos, para não ser apenas alguém que vemos a passar na rua mas nunca chegamos a conhecer verdadeiramente. Ficam muitas vezes impressões superficiais dos discos serem bons ou maus, mas depois só alguns são verdadeiramente eleitos, por razões que têm a ver connosco e não devido à qualidade intrinseca dos discos.

Depois de tanta conversa, eis uma pequena lista de discos sob escuta:

electrónica

Ten and Tracer Companion - o Luís já falou deste projecto. "Companion" é deste ano, e está a revelar-se absolutamente viciante.
Mira Calix 3 Commissions
Triosk Moment Returns - atenção para este novo lançamento da Leaf Recordings! As primeiras audições parecem denunciar um excelente disco.
Merzbow & Pan Sonic V - excelente disco ao vivo de noise digital deste trio.

pop-rock/folk/whatever

Tom Waits Real Gone - é tão bom!...
Blues Explosion Damage - em grande forma, Jon Spencer e companhia.
Laibach Anthems - compilação dos hinos dos Laibach, inclui inenarraveis versões de "The Final Countdown" e "In the army"...

E mais o que me cair nos ouvidos.



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quarta-feira, outubro 13, 2004

Mira Calix "3 Commissions" (Warp, 2004)



Num ano em que a editora Warp tem estado pouco activa, com poucas edições significativas, eis que ressurge com um pequeno álbum da Mira Calix, produtora de origem sul-africana que já lançou vários discos nesta editora. Até agora a Mira Calix produziu álbuns como "One to one" sem o tipo de personalidade forte que caracteriza produtores como o Aphex Twin ou os Autechre, navegando nas águas calmas do estilo idm. Sem grandes rasgos, mas de forma competente.
Neste novo álbum, contudo, muita coisa mudou. Resultado de uma colaboração com a London Sinfonietta e com os insectos do jardim do Barbican em Londres (!), estes três temas foram apresentados em galerias de arte e mostram uma produtora muito mais segura e arrojada que baste. Partindo de gravações de campo (justamente o som dos insectos), a Mira Calix deixou contaminar esses sons com suaves melodias electrónicas. Com uma lado hipnotizante e relaxante (muitos amantes de New Age eram capazes de gostar disto), mas também de uma forma doce e ritual. E também com algo de sintético e obscuro, a lembrar o EP "Gobi, the Desert" dos Monolake: estas paisagens mostram insectos a serem vistos através de um ecran de TV de alta definição. Talvez sejam robots como os do filme AI. Seja como for, é um álbum incomum, com pontos de contacto com variadas sonoridades, entre o ambientalismo de um Biosphere e a introspecção da Colleen.

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